segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Botão -> “Reiniciar”

Hoje em dia fala-se muito em empreendedorismo, espírito de iniciativa ou mesmo o famoso “safa-te”. Mas não estará este conceito a desaparecer na sociedade portuguesa?

A verdade é que a cultura Portuguesa é muito dada a este espírito, onde o nosso passado fala muito alto. Terão os navegadores perguntado aos reis como se chegava à Índia por mar? De certo que Infante Dom Henrique terá dito: “Safem-se!”, pois nem ele próprio saberia a resposta. E como este, teremos tantos outros exemplos de portugueses que se safaram e safam na vida, sem resposta aparente, a não ser pelo “esforço” e capacidade de decisão, no dia e hora exacta. Se bem que, vive em mim uma certa dúvida, que pausa na possibilidade de nos desenrascarmos, por afinal sermos desorganizados e pouco planificadores. No entanto, vou continuar a acreditar que somos um povo de improvisadores e empreendedores, sabendo eu à partida, e por experiência própria, que das vezes que me intitularam de improvisador e empreendedor, já tinha algo preparado. Se todos os portugueses assim fossem, então era óptimo, porque passávamos a ser um povo organizado, disciplinado e com grande capacidade de criatividade e de “safadez”. O que, desculpem o aparte iria contra algumas teorias da criatividade, que especulam sobre a incompatibilidade entre regras e criatividade.

No entanto, hoje, ao escrever este texto, pretendo reflectir sobre a expectativa de que esta forma de estar continue a existir nos anos vindouros. Podendo falar de vários sectores da sociedade, como os desempregados ou os empresários, vou-me abastar de falar dos jovens. Olhando para eles e para os seus pais, vejo que hoje podem ter acesso a muito mais informação, e possibilidades de desenvolver as suas capacidades intelectuais. Falo como é óbvio do acesso ao ensino durante mais anos, acesso a mais literatura, acesso à internet (se bem que aqui, quem escolhe a informação é o utilizador. Percebem-me se disser que quem frequenta a internet para visualizar sites pornográficos, mais não pode contribuir do que ajudando a melhorar a taxa de natalidade portuguesa). Mas será que estes jovens estão a usufruir bem dos meios que estão à sua disposição? Muito provavelmente não estão. E pior que isso, é que estão em condições muito melhores para improvisar e criar do que os seus pais, porque têm fontes de informação, que podem completar muitas ideias de negócio, por exemplo.

Pegando noutra questão. Será que os videojogos são úteis à sociedade? O que ensinam os jogos a miúdos de 10, 12, 14 anos? Que podem ter uma realidade controlada? Que se as coisas estão a correr mal, basta clicar no botão reiniciar? Uma das “dificuldades” com que tenho que lidar hoje em dia, no meu trabalho tem muito a ver com isto. Às vezes, bem me apetece reiniciar, ou mesmo desligar. Mas não posso, tenho que encarar os problemas. Tenho medo de pertencer a esta geração de “videojogo”, porque afinal passei a minha infância a jogar. No entanto, não jogava só PC, nem mega-drive, mas mandavam-me para a rua brincar. E fizeram bem (os meus pais), porque tive uma vertente muito importante de socialização. Entristece-me que muitos dos jovens de hoje não pratiquem um desporto, que fiquem agarrados às redes sociais da internet, e que provavelmente, isto resulte numa geração de jovens pouco comunicativos, com pouca garra e incapazes de lidar com responsabilidades. E ainda se fala mal da rua, apresentando-a como um fantasma que transforma a criancinhas em vândalos. Besteiras!

Muitas vezes na vida só existe “one chance”, e se não a aproveitarmos, nunca mais a teremos. Os que têm mais do que uma, é porque lutaram, guerrearam e viraram as coisas à sua maneira. Mostraram que foram capazes.

Vem ai uma geração assim? Pelo que vejo, não acredito.

Deixo-vos com uma citação de um lutador:

“Sonha e serás livre de espírito… Luta e serás livre na vida” de Che Guevara

1 comentário:

  1. Antes de mergulhar neste artigo, pensei "e ainda dizem que eu faço 'testamentos', fogo!",mas no final de contas lê-se muito bem. Belo artigo!
    Queria apenas deixar uns retoques na perspectiva do 'desenrascanço': não me parece que 'desenrascanço' seja agir à medida que as coisas acontecem, isso parece-me desleixo. Por exemplo, um desempregado que espera que o centro de emprego lhe arranja uma entrevista e depois vai lá sem estudar a empresa, não é desenrascado, é desleixado. Para mim, desenrasque funciona melhor com uma linha orientadora como base e depois conseguir-se lidar com as situações à medida que aparecem. Como disseste, a maioria das vezes que disseram que eras empreendedor tinhas te preparado, aí está! Depois certamente que conseguiste lidar com a situação. Mesmo para o desenrascado, "só sai a quem joga".
    Outra coisa: numa outra perspectiva, os jogos de video (está provado) tem uma influência interessante no jogador: estimula as decisões rápidas e como tal, apesar de se poder reiniciar o jogo, há sempre algo que se perde (e ninguém gosta de perder), o que força o treino mental.

    Abraço e até à próxima!

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